caneta amarela partiu

hoje uma caneta que não morou muito tempo comigo partiu. assim são as posses não guardadas a sete chaves, assim são as transitórias e baratas canetas chinesas. era uma jinhao 159 amarela. e ela tinha uma história. as canetas que passam por nossas mãos e nos permitem escrever no papel em cores maravilhosas têm uma história, nem que seja uma historinha. 

essa começa com uma compradora cheia de esperanças de importar coisinhas que não são vendidas aqui de um jeito menos caro. maior vergonha de um jornalista: ser mal informado. acreditei na amiga dos correios, que me disse que se alguém me enviasse uma caixa como presente, seria quase certamente isenta de impostos. acho que ela ficou com dó ao me ver desembolsando mais de R$ 200 para a receita federal por um pacote que não tinha nada assim excessivo. 

acreditei sem checar, vejam bem o que pode fazer a paixão ao nosso bom senso e o quão desarrazoados podemos ser quando não conseguimos obter o que desejamos. bom, pelo menos eu. tem gente que consegue. que sorte. ou beigice, depende do ponto de vista. enfim.  

comprei zilhares de coisas. blocos, cadernos, canetas, tintas, tintas, tintas, blocos, cadernos, canetas. e tintas. fui juntando na casa de um amigo que lá pelas tantas me questionou se eu pretendia copiar a bíblia. ele é estoico. escorpião ascendente capricórnio. apesar das caudalosas cartas que lhe mandava, ele não se convencia de que aquilo fosse senão mais uma de minhas idiossincrasias. 

entre as compras, ela, que hoje partiu. foi morar na casa de um cara que perdeu o pai. ele precisa mais da caneta amarela com sailor jentle nioi sumire do que eu. mandei do jeito que estava, perguntei se ele gostaria. junto no pacote seguiram uma diamine autumn oak, embora ele quisesse mesmo a noodler's apache sunset. mas a única que tinha foi vendida. daqui a pouco tenho outra. um bloco rhodia a4, premium, com papel marfim. capa no icônico laranja da rhodia. e uma surpresa que não posso revelar aqui porque vai que ele lê e a surpresa se desmancha. ele pediu uma cor que lhe trouxesse alegria. escolhi uma, conto depois qual. e seguiu o pacote com seu código de rastreamento. vai chegar rápido porque é no mesmo estado. tenho certeza de que um esboço de sorriso, no mínimo, vai rolar. 

o final da história da caneta é que meu pobre e atarefado amigo não a listou entre as compras que haviam chegado à casa dele. quando vi, já tinha dado por perdida e comprado outra. a segunda, chegada logo depois da que veio de surpresa, nunca quis. dei de presente pra uma amiga que também precisa de amarelo na vida dela. agora se foi aquela que nem contava que chegaria. ah, e a trouxa pagou muito mais do que ousa revelar na caixa que chegou do amigo estoico.